domingo, 14 de dezembro de 2008


Cacilda 1.

In memoriam de Constantino Paleólogo
I -- A lua e a repartição

Mais uma noite vazia. Chegara como sempre fatigado, os miolos quase rompendo-se de lembranças tolas da repartição. Procurei os chinelos. Fui à janela buscar ânimo para escrever. E admirar a lua: a encantar sempre quando cheia mas indiferente aos meus conflitos, aos pensamentos que se entrelaçavam. Invejei-lhe a posição soberana de desinteresse por tudo que eu pensava naquele instante. Yolanda... Yolanda, a nova funcionária. Admitida por trás das cortinas, ao entrar no escritório todos petrificaram-se. Menos o chefe. O dr. Antonino. Ele apresentava-se tranquilo e com muito bom humor. O autor da comédia. Nós, funcionários, recolhemo-nos à real condição de subordinados. Havíamos divisado ali algo como seara alheia. Apesar disso, algum mais ousado não deixava de espichar olhares maliciosos até as pernas alentadas da jovem dactilógrafa, que depois de cruzá-las com uma habilidade vulgaríssima se punha a mexê-las de modo a descobri-las parcialmente. Não tardaram os comentários ao pé do ouvido. “Até que ele teve gosto, não acha?”. O Lúcio levantara-se, vindo a minha mesa só para me dizer isto, referindo-se ao chefe. Mostrei-lhe um ar de desagrado, mas interiormente bem que estava de acordo. As moças não ficaram nem um pouco satisfeitas com a admissão da Yolanda. Soltavam diabinhos, mexericavam. Marilene, a menos bela de todas, porém a mais comunicativa, foi a única a se aproximar da nova colega: “O seu nome, querida?”. Chamava-se Yolanda a fiu-fiu. Yolanda... Mexia as coxas, provocando, enquanto se pintava no espelhinho. “Com o tempo, você vai se acostumando aqui”, prosseguia Marilene, “e espero que se dê otimamente conosco”. A outra afastou por segundos o batom dos lábios e esboça um certo sorriso em agradecimento.
Agora, à janela do quarto, via-me sem nenhuma motivação para tocar o romance que começara a escrever. Sentia-me encaramujado, a cabeça tinindo de recordações do dia: a voz cacete do Antonino, o chefe. O chefe... Sua última aquisição esfregava-se na cadeira, a retocar de quando em quando a pintura. E o Lucio, para mim: “Até que ele teve gosto, não acha?”.
Jogo-me na cama.

II -- A heroína

Nem seis horas ainda quando me pus de pé. Embora houvesse acordado algumas vezes durante a noite, o cansaço desaparecera. Não conseguira, entanto, desvencilhar-me das imagens do dia anterior. Persistiam. Cruzavam-se e depois se moviam com a mesma nitidez, igual precisão. “O seu nome, querida?”. No lavatório, ao fazer a higiene, notei os olhos profundos como se não os tivesse cerrado um só momento. Cubro com a toalha o rosto molhado, o enxugo bem, erguendo-o em seguida diante do espelho a fim de certificar-me se, de fato, tinha olheiras. Tinha-as sim. Barbeei-me, vesti-me, e fui lanchar num café por perto, como costumava fazer; morava em quarto independente, no Méier. Sentado a uma mesinha, ao fundo, chamo um pequeno engraxate-ambulante que passava na calçada e lhe peço para comprar um jornal da manhã.
Dou-lhe o troco e leio rapidamente as últimas do noticiário internacional. Passo, então, à página da seção literária. Já esperava... Lá estava, a meu respeito, entre outras notas:

O jovem teatrólogo Diógenes Tocantins, após longa ausência dos palcos cariocas, onde ficou bastante conhecido com uma única peça, está escrevendo agora um romance. Título: Cacilda, a Heroína. Tomara que o Diógenes seja feliz mais uma vez, sem renegar, entretanto, o teatro.

“Obrigado”, monologuei acendendo um cigarro. Cacilda, a Heroína. Contudo, a repartição, a repartição... De 9 às 5: o chefe, o chefe Antonino, duas filas de mesas, Arlete, Mariúsa, Enilda, Marilene, Epaminondas, Lúcio, eu; sobre a mesa de Marilene uma pequena jarra com flores artificiais; rotina insuportável.
A única novidade do dia fora a chegada de Yolanda, que roçava as pernas morenas uma na outra ao mesmo tempo em que acompanhava o expediente pelo espelhinho.
Ergo-me num ímpeto. Atiro o cigarro fora. Ganho a rua meio atoleimado.

III -- O espelho

Na repartição, foi Epaminondas o primeiro a notar certa diferença em minhas feições.
-- Varou a noite escrevendo, percebe-se.
-- Por quê?
-- Estes teus olhos não me desmentem.
Preferi calar, a mentir. Não fizera naquela noite uma linha sequer do anunciado romance, que a bem dizer não saíra do capítulo inicial, não avançava. Provavelmente, o Epaminondas lera a notícia na coluna de livros. Só podia ser.
Recuei, temeroso de que outros notassem as minhas olheiras. Fui ao espelho do lavatório, e elas pareciam acentuar-se mais e mais. Volto assustado. Procurava um meio de ocultá-las dos colegas. Inutilmente. Olhavam-me de maneira um tanto repreensiva. A ponto de eu não resistir. Não me contive, deixando a cabeça cair entre os braços cruzados sobre a mesa. Assim permaneci por bom tempo, até sentir alguém pousar a mão em meu ombro:
-- Algum problema, Diógenes?
O Lúcio. Dessa vez não viera falar-me da olfação do chefe na escolha da última dactilógrafa. Queria saber o que se passava comigo.
-- Nada... -- e me endireito na cadeira.
-- Você precisa se divertir também, Diógenes -- aconselhou-me.-- Não é só escrever, escrever...-- Faz uma pausa, retira a mão do meu ombro, ordenou:-- Amanhã é sábado. Espere-me às 8 da noite na calçada do Metro, na Cinelândia, e não se preocupe com o resto. Se você faltar, não seremos mais amigos.
-- Mas...
-- Não tem ‘mas’. Se der o bolo... acabou-se nossa amizade, entendeu?
Fui novamente ao lavatório, e encontro a Yolanda se pintando, apoiada na pia, um dos pés fora do sapato. Percorri-lhe o corpo, e ela sorriu sem afastar o batom dos lábios. Corei ao dar-me conta de que meus olhos estavam também no espelho.
Saio apressado.

IV -- Meninas de bronze

Até hoje, ando por saber como fui considerar tal convite, para mim, inusitado. Compareci à hora precisa que o Lúcio marcara na véspera. Afinal, ignorava até onde ele pretendia levar-me. “E não se preocupe com o resto”. Iríamos ao cinema, ao teatro, a uma boate? Sabia, sim, que sua intenção nessa noite não era outra senão matar tempo numa casa de diversões qualquer. E me intimara a acompanhá-lo. “Não é só escrever, escrever...” O Lúcio, certamente, desconhecia a verdade. Fizera eu um capitolozinho do romance, e só. Nada mais criara. Um diálogo, que fosse.
Passados uns cinco minutos da hora combinada, eis que aparece ele e preocupado com os amores de costume. Foi logo interrogando-me:
-- Viste por aí duas meninas de bronze, queimadinhas de praia, do mesmo tamanho, impacientes, consultando o reloginho a todo instante?
Aguardei mais detalhes sobre elas; como não os recebesse, neguei com a cabeça e lhe estendi um cigarro.
-- Já sabia...-- murmurou como se tivesse, realmente, previsto o desencontro.
Uma seria para mim. A outra, para ele, evidentemente. Percebi que sua fisionomia se modificara ao ter quase a certeza de que não havia ligado maior importância ao fato. Deitava ares de quem estivesse a braços com um problema seríssimo e, assim, se esforçasse para resolvê-lo, tão desconcertado se mostrara com a ausência das misteriosas meninas de bronze.
-- Talvez ainda venham -- fingi que procurava infundir-lhe esperança.
-- Não -- replicou,-- conheço-as muito bem, são de uma pontualidade britânica. Puxou a fumaça do cigarro e decidiu: Tomemos um chope bem esperto.
Entramos no primeiro bar. Sentamo-nos, e o Lúcio, com a idéia no desencontro, enche os pulmões e pede ao garçom:
-- Duas meninas de bronze!
Dois copos de chope aterrissaram em nossa mesa. Sorri, perplexo. Ele sorriu mais perplexo ainda, e ajeitando a gravata:
-- Já sei aonde iremos hoje. Mas é muito cedo. Dá pra repetir as meninas...
Não cuidei de sabê-lo.

V -- No dancing

Outro mundo. Muito diferente daquele em que me habituara a transitar. Alternavam-se os ritmos. Ora ligeiros e ásperos, outras vezes aveludados feito a penumbra que cortinava o salão. A orquestra não parava. Como a alimentar a fogueira humana bamboleando enlevada. Mulheres atravessavam à nossa frente. Todos os tipos. Bonitas e sensuais, a maioria. Algumas cumprimentavam jeitosamente meu companheiro, que lhes beijava as mãos numa atitude meio ridícula, irrefletida. Via-se, entretanto, que gostavam da maneira como ele as tratava. Riam. Abafavam os gritinhos. Ameaçavam mordicá-lo na face. Beijavam-lhe a face.
-- Lúcio, querido, vamos dançar?
Levanta-se, acompanhando a loura de olhos levemente rasgados. O crooner: “Quem nasce lá na Vila... nem sequer vacila... ao abraçar o samba...” Um perfume delicado se desvanece pelo ar. De quem? Daquela de nádegas soberbas ou da morena que se parecia com a Yolanda!? Até o modo de vestir-se era da Yolanda. Talvez também se chamasse... Yolanda. Seria? Aproximei-me dela. Levo-a para o salão. Colamo-nos. Sua face... cheirosa, cheirosa. Desprendia um aroma de uma leveza penetrante. Aquele que ainda há pouco eu devo ter sentido.
-- Chama-se... Yolanda?
-- Cacilda.
-- Cacilda?! Não é nome de guerra?
-- É meu nome mesmo. Por quê?
-- Porque a personagem principal de um romance que estou escrevendo tem o seu nome.
-- Grande coincidência, não, querido? E qual o título de seu romance?
-- Cacilda, a heroína. Gosta?
Ela retira a mão do meu pescoço. Aperta-me a cabeça contra a sua. Dançamos algum tempo calados. Passamos por Lúcio e a dama de olhar vagamente japonês. Lúcio pisca para mim. Abre um sorriso. Cacilda descola a face. Olha-me de frente:
-- Posso ser sua heroína hoje?
-- Depende... A que horas fecha?
-- Hoje... às quatro, querido. E já são quase três.

VI -- A ex-bailarina

Tornei-me frequentador do dancing. Lúcio espalhava na repartição, orgulhosamente e com a flama habitual, que me ensinara o caminho da vida.
-- Está é desencaminhando o rapaz, isto sim! -- Epaminondas não perdia uma oportunidade para reprimendas.
Lúcio rebate:
-- O escritor necessita de umas aventurazinhas de vez em quando para poder produzir, ora essa!
Acontece que o que vivíamos, eu e Cacilda, era bem mais que simples aventura. Eu a conheci numa casa de danças como poderia tê-la encontrado num escritório de contabilidade. Ela oferecia-me o calor necessário para escrever. Escrever, quem sabe, o seu próprio romance. Eu rasgara o capítulo inicial, recomeçando a obra sob a imagem viva e sadia de Cacilda, uma Cacilda humana, que amava e sofria como qualquer mulher normal. Víamo-nos frequentemente, até que lhe propus nos juntarmos. Ela aceitou. Deixaria a dança por tempo medido a cartão picotado. Tinha boa reserva em dinheiro, que cobriria alguns meses de aluguel de um apartamento. De minha parte, contava tão somente com os minguados vencimentos da repartição. Mas uma editora aguardava os originais de Cacilda, a Heroína, romance que finalmente caminhava, apesar das poucas horas de que eu dispunha para dedicar-me a ele.
Quando o dr. Antonino assinou minhas férias Cacilda já havia abandonado o dancing; morávamos juntos num pequeno apartamento no Flamengo. Voltaram-me aquelas palavras do Lúcio: “O escritor necessita de umas aventurazinhas de vez em quando”. Seria mesmo aventura o que estávamos vivendo? Não me interessei em separar o sonho da realidade. Melhor seria flutuar entre os cantos do teto ou perguntar aos botões da camisa quem descobrira o Brasil. O Dancing Brasil.

VII -- Gorduchão

Minha companheira assumira as ocupações de uma dona-de-casa. Eu enchia laudas e laudas diariamente. A vida mudara para mim e para ela, Cacilda. Tinha outro sabor, outro ritmo -- bem diferente daquele de blue ou de samba que entorpecia ou fazia requebrar o salão. O ritmo de nossos dias era agora seguro e feliz. Prenunciava boa colheita.
Recebera do editor uma carta muito amável indagando sobre o livro, quando estaria pronto. Respondi-lhe imediatamente, usando de maior amabilidade, que aguardasse mais uns dias, pois estava produzindo a todo vapor. Prometi-lhe: “Amanhã irei bater um papo com o bom Gorduchão. Espere-me com chá e torradas”.
Gorduchão, em nossa intimidade. Grande homem: amigo dos escritores, especialmente dos novos. Editor como ele, difícil de ver. Procurava os autores, ao contrário de outros. Gorduchão... Grande homem, grande homem! Lutava contra a crise editorial mais para servir às letras, aos intelectuais, ao povo. Escritor brasileiro que não o conhecesse, tivesse um único terno, ficaria sem o terno, ameaçado pelos fantasmas da fome. O caso de Felício de Barros. Um jovem que prometia... Aos 18 anos compôs um romance de fôlego que somente viria a ser publicado abrindo suas obras póstumas. Morreu inédito, assistido por um psiquiatra. Morreu louco. E sua vida foi de esforço, talento, produção; como ‘proveito’ de tudo isso obteve desilusões, portas aferrolhadas para o sol. “Felício de Barros a sobraçar originais de suas obras pelas ruas lembrava Cristo carregando a pesada cruz para o Calvário” -- concluía sua oração no cemitério, em lágrimas, um amigo do escritor que não tivera a felicidade de conhecer Gorduchão.
Um santo homem esse Gorduchão. Morreria como Felício de Barros: louco, chupado, um imenso enigma a corroê-lo, a desafiá-lo. O velho editor aos gritos na hora da morte: “Viva o Brasil! Viva o Brasil...” Gorduchão, coitado, acabaria assim. Parecia ironizar seu próprio fado.
Antes disso, porém, muita coisa aconteceu, e ninguém acreditava que o bom Gorduchão fosse um dia ficar demente, apesar daquela sua extraordinária vocação para Papai Noel.

VIII -- Última página

De volta da editora, onde estivera com Gorduchão, encontrei-me com o Lúcio na Avenida Rio Branco. Abraçamo-nos efusivamente como se não nos víssemos há anos. Ele ignorava o capítulo mais recente do meu romance com Cacilda: estávamos juntos, enfim; ela deixara o dancing, dava-me o estímulo que me faltara para produzir, e a propósito o meu livro deveria sair em meados do outro mês.
Ao entrar no apartamento fui recebido aos beijos por minha companheira, que radiante vinha parabenizar-me pela obra que eu realizava sem tropeços. Aproveitara minha ausência para ler alguns trechos, oportunidade raríssima porquanto havia sido a primeira vez que saíra só, sem ela, depois que nos unimos.
-- Não fosse você, Cacilda, não teria conseguido encher estas laudas com tal facilidade -- disse-lhe ao ouvido.-- A você, querida, devo tudo isso que estou fazendo, a mais ninguém.
Ela chora emocionada, baixinho, molhando-me o rosto de tal modo que quase tirou-me lágrimas também. Vi-me nas alturas. Cacilda penetrara minha obra, que mais do que a mim lhe pertencia. Cacilda, a Heroína andava. Tinha o sexo e a alma de uma personagem que vivia intensamente, que gostava muito da vida.
Faltava uma semana para o término das férias na repartição quando escrevi o capítulo final. Pedi a Cacilda que pusesse na lauda abaixo: Fim. Ela se recusou:
-- Nada de fim, querido.
Tinha lá as suas razões: amava a vida. E não aceitava o fim. Ou a morte? Evitei discutir o detalhe. Satisfiz-lhe a vontade: o romance não teria desfecho; pelo menos, declarado. Cacilda alegrou-se. Beijou-me repetidas vezes nos lábios.
Logo depois de rever os originais, entrego-os ao editor, que no mesmo dia se dá ao trabalho de lê-los atentamente. O bom Gorduchão pulou ao virar a última página:
-- Sim, senhor! Esperava boa coisa; não uma obra prima! O seu livro está esplêndido, Diógenes.

IX -- A ambulância

Chegara o dia do lançamento. Gorduchão convidara meio mundo. A festa seria na própria editora. Teria a presença, ao lado do autor, da heroína do romance, o que evidentemente despertava maior curiosidade ainda no meio artístico. Todos queriam conhecer Cacilda, a heroína, a bailarina inspiradora de Diógenes Tocantins. Jornais comentavam o fato com especial interesse.
Quando já era acotovelador o número de pessoas na editora à nossa espera acontecia o imprevisto: um auto colhia minha companheira ao atravessarmos a avenida.
Meus cabelos desgrenhados, os dedos trêmulos, trêmula a boca, a vista apagando-se...
Eu não enxergava Cacilda; cego, alucinado, uma alucinação que me imobilizava por inteiro. Até dar-me conta de que a ambulância aproximava-se. E tive a impressão de que despertara do abismo de um pesadelo.
Acerquei-me da massa. Animei-me um pouco quando alguém murmurou: “Está viva...”
Dois enfermeiros conduziram-na até a viatura. Ela respirava, mas nada dizia. Talvez quisesse chamar-me, gritar por mim, e não havia dúvidas de que lutava. “Nada de fim, querido”. Salvar-se-ia, eu erguia os braços com muita fé. Ela gostava da vida. De cada réstia de vida. Cacilda não podia morrer. Gorduchão estava esperando por ela. Gorduchão... Editara o romance. Um grande homem. Cacilda resistiria ao fim. O venceria... Aproximei-me da ambulância. Um enfermeiro:
-- É o que dela?
-- Seu marido -- respondi-lhe entre lágrimas; era uma criança.
-- Entra.
Ela abre os olhos. Reconhece-me. Caem algumas lágrimas. Quer... falar. Não consegue. Tremem os seus lábios. Inclino-me sobre o corpo ensanguentado. Alguém me puxa. O enfermeiro. Cacilda protesta com os olhos. Ofegante.
Parecia morrer. “Nada de fim, querido”. Continuava a ofegar. A ofegar... Gorduchão esperava, esperava...
-- Nada de fim, Cacilda. Resista... Lembre-se, Cacilda, nada de fim... Concordo com você, minha querida.
E ela sorri. Abraço-a. Pára de respirar. O enfermeiro compreende. Soluço:
-- Fim...
O romance já nas livrarias. A primeira edição se esgotaria em pouco mais de uma semana.
Ficara a personagem.

1. A noveleta que se seguiu foi originariamente publicada na edição de maio de 1956 de A Cigarra Magazine, pelas mãos do escritor Constantino Paleólogo, então secretário daquela publicação mensal de propriedade da Empresa Gráfica O Cruzeiro S.A. Da época das “5 revistas numa só”. Cacilda saiu na Revista Feminina. E o curioso é que sem um de seus 10 capitulozinhos baixados à oficina, suprimido, já composto, pelo próprio linotipista, que o achara picante, inconveniente a moças e senhoras -- justificava-se depois Paleólogo, que sorrindo meio folgazão... “E, no entanto, ela se move!”, repetiu Galileu por mim. “Ah! não esqueça de ir ao caixa; identifique-se e receba o que lhe é devido”. (Aos 23 anos). O trecho pecaminoso logo derreteu-se com o chumbo da linotipo de O Cruzeiro, revista semanal, em cujas oficinas editava-se também A Cigarra. Décadas evaporadas, mais que élan, faltou-me lastro para uma reconstituição da corrida etc. etc. ao quarto de hotel da jurisdição do poeta Manuel Bandeira. Indo-se, naturalmente, pelos Arcos da Lapa. Outra coisa: o texto passou por uma copidescagem, porém tive o cuidado de não desfigurar-lhe a estrutura e tampouco a substância. O nome do dancing não constava nos originais no tempo em que ele, o Brasil, ainda funcionava. Ao lado do Avenida. Muitos anos antes de porem abaixo o Palácio Monroe, antigo Senado da República e que ficava do outro lado da pista em frente. (Nota do autor)

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