domingo, 14 de dezembro de 2008


Regeneração da formiga



Mais fiandeira de histórias que praticante de enfermeira, porque assim fosse, em dadas circunstâncias ninguém melhor que Guacirema para salvar a tradição de “pronto e eficiente atendimento” da Pharmacia Santa Rita, das poucas relíquias de boticário no Brasil a atender ainda. E lá onde a estabeleceram, quem sabe quem, antes mesmo, acredita-se, de aparecerem as pílulas numeradas do doutor Etchecoin para expungir do corpo todos os males possíveis de diagnosticar. Nos idos imperiais.
Vale arejar que o doutor Etchecoin, francês de umbigo, passeou as suas aureoladíssimas pílulas paulistanas pelos primeiros caminhos de ferro do nosso augusto território. E que dizer da Pharmacia Santa Rita? A fim de que se tenha uma pálida noção do seu lugar na farmacopeia brasileira, que já deveria, no mínimo, estar tombada ao Patrimônio Nacional, com o consultório do doutor Wandick: para que Guacirema não se vá inteiramente.
Pharmacia Santa Rita no esplendor do rhum creosotado: ninguém morrendo de tossir. E no esplendor de Guacirema, uma prenda de respeito entre os moços da vila de Santa Rita: de se olhar mas só pecar imaginando - Se enxergassem! -, tanto mais pelo seu jeito de aquietar infantes. Disso Guacirema podia se gabar, de que sem ela a Pharmacia Santa Rita não cumpriria o seu “pronto e eficiente atendimento” em circunstâncias muito especiais.
Guacirema na porta ao lado a guardar o consultório do doutor Wandick, e a si mesma para ele, o consultório com mesinha e cadeira de imbuia, pequeno armário com umas ventosas que ao doutor coubera da partilha dos bens do seu sempre lembrado pai (o estetoscópio voltava para a maleta - de atender também em Boa Sorte, uma vila sobrevindo no caminho do trem), um banco para a clientela e inclusive ela, Guacirema, quando se cansasse na porta. Entrasse aos puxões na farmácia uma criança berrando, era hora de acudir. Não demorava chamarem lá de dentro: Guacirema!
Fechava então o consultório ou dependendo da altura do berreiro às vezes nem fechava - Quem irá afanar umas ventosas? - e dobrava... lep lep, lep lep para a Santa Rita, lépida rente ao balcão a derrubar, que mania, o reclame de uma emulsão do óleo de fígado de bacalhau, do dr. Scott, que a mulher do farmacêutico, dona Marieta, encasquetara que tinha de ficar na beirada.
Guacirema sabia histórias de caçador, a do tatu, por exemplo, que o menino, agora o filho de dona Evangelina (professora de canto orfeônico na cidade), a espernear com as nádegas para cima em sua primeira vez não queria ouvir porque já lhe tinham contado, segura cá segura lá, também a do pinto que enganou o gavião, mãe vai doer! e o berreiro, e a seringa ainda com seu Astolpho, o farmacêutico, expelindo o ar; ou então a da formiga muito esperta e malvada, Guacirema a desarrolhar o álcool para embeber o algodão; Guacirema vai lhe contar a história da formiguinha, meu filho, que você não conhece! dona Evangelina a segurar no dorso; não conheço nem quero!
Pois havia uma formiga muito esperta e malvada... O menino, de tanto espernear, sentiu o algodão escorrer e bem que gostou, seu Astolpho a deixar a seringa com Guacirema e indo logo ajudar Marieta nas pernas, apesar de sofrer da coluna. De novo aos berros. E já uma pernada na barriguilha do farmacêutico, que a uma dorzinha no espinhaço largara um pouco, acabando por sentir também na frente.
- Era uma formiga muito esperta e malvada - Guacirema a abalar na preparação -, tão malvada e esperta que tarde da noite corria os quartos da casa para ver se a família estava completa, se não faltava alguém para ir dormir. Feito isso, voltava ao formigueiro e ordenava um corrimento de formigas cozinha adentro, pelos cantos, até a despensa, e não sobrava um grão de cocada sobre a mesa. Nem bem amanhecia -Valei-me , Cosme e Damião! - a dona da casa, sempre a primeira a se levantar, pisoteava e depois varria meio mundo de formigas. Nada, porém, acontecia àquela que todas as noites ordenava a invasão pelos cantos da cozinha até a despensa, não ficando grão sobre grão de cocada na mesa. Era trouxa? Pois sim! Antes do galo acordar, e solfejar... sol mi mi fá fá ré ré fá fá ré ré, sol sol mi sol, sol mi mi fá fá ré, si lá sol fá mi ré dó, que o galo aprendera com dona Evangelina...
O galo mais parecendo uma carijó, Guacirema houve por bem consertar que na verdade ele fazia mesmo era cucurucuu.
- E antes dele cantar... a formiga muito esperta e malvada, sem que as outras percebessem, escapulia para o formigueiro. Noite seguinte, certa de que todos da casa já dormiam, lá ia ela de novo chefiar mais um batalhão de formigas. Fazia só dar ordens para o ataque. Dobrava-se de rir, vangloriando-se por verem nela a mandona do formigueiro. Deu-se que um dia um passarinho se aproximou dessa formiga, trouxe-a para fora, com o bico, e avisou: “Por que és tirana, formiguinha? Se não te emendares, não terei um pingo de contemplação. Te engulo, ouviste? Te engulo!”. Ela pegou a chorar e suplicou: “Arrependo-me de todo o mal que fiz até hoje. Ajuda-me, passarinho, ajuda-me agora a praticar uma boa ação”. Nisso... como o menino da casa estivesse doente... o passarinho disse à formiga para ir beliscá-lo no bumbum. O menino assustou-se, como era natural, com a picada, mas já no outro dia, graças à formiga, pôde deixar a cama e voltar a brincar com os amiguinhos. Assim inventaram a injeção! Não foi uma formiguinha?
Tinha sido, e por artes de birlibirloque - magia de Guacirema. A terra lhe seja de algodão.

4 comentários:

claudianyyy disse...

meu nome:claudine casa:05.
moro :mt
mariga:03
pofisão :eu quero muito partisitar na novela.
idade:10anos

telefone:36916158

claudianyyy disse...

meu nome:claudiane casa:05.
moro :mt
mariga:03
pofisão :eu quero muito partisitar na novela.
idade:10anos

telefone:36916158

claudianyyy disse...

meu nome:kakal
casa:05.
moro :mt
mariga:03
pofisão :eu quero muito partisitar na novela.
idade:10anos

telefone:36916158

Fernando Henriques Gonçalves disse...

Tudo bem, Kakal.
Agradeço o interesse abraços.